De um coração transtornado a um mundo transformado
No próximo dia 31 de outubro, serão completos 506 anos da Reforma Protestante, um movimento que, antes de suas interfaces com circunstâncias históricas, econômicas e políticas de um mundo que buscava superar a Idade Média, começou a partir das inquietações de um coração transtornado, afetado profundamente pela Palavra de Deus.
Ao considerar profundamente palavras do Apóstolo Paulo em Romanos 1.17, o monge agostiniano Martinho Lutero experimentou uma mudança pessoal que seria o ponto de partida para uma mudança radical nos rumos da história moderna. O texto diz: “visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé”.
Tomado de intensa inquietação com o texto, ele concluiu: “Comecei a entender que a justiça de Deus é aquela pela qual o justo vive por um dom de Deus, em outras palavras, pela fé. E este é o significado: no Evangelho, é revelada a justiça de Deus, isto é, a justiça passiva com a qual o Deus misericordioso justifica-nos pela fé, como está escrito: ‘O justo viverá pela fé’. Foi quando senti como se tivesse nascido de novo e entrado no paraíso por portões abertos”.
Ali, Lutero iniciou um processo que culminou em sua indignação com a decadência moral e teológica da igreja romana de seus dias, motivando-o a publicar suas famosas 95 teses, que contestavam, entre outras coisas, a venda de indulgências pela igreja e a própria ideia de salvação pelas obras – não, o homem transformado e transtornado pela palavra de Deus afirmaria: a salvação é pela fé! – mal sabia aquele homem que não estava apenas levantando um debate teológico, mas deflagrando um processo que transformaria o mundo!
No período inicial da Reforma Protestante, seus precursores sistematizaram suas contestações teológicas à igreja romana no pronunciamento de cinco afirmações fundamentais, que ficaram conhecidas como os cinco solas da Reforma: Sola Fide (a salvação é somente pela fé e não pelas obras), Sola Gratia (a salvação é um ato gracioso exclusivo de Deus para com o pecador), Solus Christus (somente Cristo salva), Sola Scriptura (somente a Escritura Sagrada, e não a tradição da igreja, é divinamente inspirada e, portanto, a regra de fé e prática do cristão) e Soli Deo Gloria (somente Deus deve receber toda a glória).
Aquela nova compreensão da graça de Deus revelada em Sua Palavra reorientaria a atividade humana nas mais diversas áreas: política, artes, educação, ciência, religião etc. O mundo jamais seria o mesmo. Os séculos seguintes viram o surgimento de noções fundamentais do ideário moderno sob a influência dos protestantes. Surgem as ideias de: a) um Estado laico, em que a liberdade religiosa é protegida contra a interferência indevida do Estado; b) tolerância religiosa, buscando o fim da discriminação de pessoas por motivo de sua confissão religiosa; c) dignidade natural de todos os seres humanos, uma vez que todos igualmente criados à imagem e semelhança de Deus… Os impactos são muito mais numerosos do que as poucas linhas deste texto nos permitiriam apenas mencionar.
Hoje, cinco séculos depois, com a modernidade tendo sido moldada em muitos de seus princípios pela influência dos protestantes, nós seguimos afirmando a exclusividade daqueles cinco solas. O que Deus começou a fazer a partir daquele movimento continua repercutindo na vida de cada pessoa que hoje vive para a glória de Deus, por haver recebido a salvação pela graça, mediante a fé em Jesus, conforme as Escrituras Sagradas. Deus seja louvado por estes cinco séculos!
Rev. Jailson Lima